Coringa 2 é o pior pesadelo de todo executivo de Hollywood
Coringa 2 não é apenas um desastre. A coleção de fracassos que o filme coleciona formam a pior situação possível para qualquer estúdio de cinema.
Compartilhe: Tiago Vieira
Publicado em 9/10/2024 - 06h00
Que Coringa: Delírio à Dois é um fracasso histórico de bilheteria não é novidade para ninguém. Mas o filme é mais do que isso: trata-se de um tipo único de desastre que consegue reunir todos os piores elementos possíveis para qualquer estúdio hollywoodiano.
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Quais são eles, e como está a performance de bilheteria de Coringa 2? Bem, para começar, Coringa: Delírio à Dois custou nada menos que o triplo do primeiro filme. Há cinco anos, Coringa foi recebido como uma novidade em uma indústria que havia se tornado dependente de blockbusters de super-heróis com orçamentos de US$ 200 milhões. Com um custo de produção de US$ 60 milhões, o longa de 2019 usou o fato de não ter a obrigação de faturar US$ 1 bilhão nas bilheterias para ser mais ousado do que o típico filme de HQs.
Tendo sido lançado meros cinco meses após o mega sucesso Vingadores: Ultimato e em meio a intensos debates na internet iniciados quando Martin Scorsese (principal inspiração para Coringa e um de seus produtores quando o longa se encontrava em estágio embrionário) declarou seu ódio a filmes de heróis, o filme foi um autêntico thriller sombrio e realista na acepção mais extrema desses termos. Justamente por isso o filme foi visto como “polêmico” e “perigoso” e acabou arrecadando US$ 1.08 bilhão nas bilheterias a despeito das ridículas conjecturas de uma mídia viciada em clickbaits de que ele inspiraria atentados à tiros nos cinemas.
Considerando apenas a bilheteria e o custo de produção, Coringa é possivelmente o filme de HQs mais lucrativo já feito.
O que deu errado em Coringa 2?
Já sua sequência foi produzida a um orçamento que não deixa nada a dever a um filme do MCU: US$ 190 milhões. Mesmo considerando que o diretor Todd Phillips e os protagonistas Joaquin Phoenix e Lady Gaga receberam ao todo US$ 52 milhões (quase o orçamento inteiro do primeiro filme), ainda assim não havia por que o estúdio gastar tanto dinheiro na sequência de um longa famoso por usar seu orçamento comparativamente pequeno para tomar riscos que um Vingadores não poderia correr.
Ou melhor: até havia se houvesse garantias de que o longa seria um sucesso ainda maior do que o primeiro. No entanto, não era isso que o diretor Phillips tinha em mente. Aparentemente o cineasta se chateou com as pessoas que viram a transformação do miserável Arthur Fleck em um assassino em massa como um feito épico e não uma tragédia. Muitos espectadores “não entenderam” o filme no sentido de que Arthur não é um exemplo a ser seguido, mas sim o caso extremo do que acontece quando a sociedade falha com os marginalizados.
Por isso, a despeito do final de Coringa, que mostra Fleck “tornando-se” o vilão, Phillips produziu um filme inteiro (e a um custo assustador até para Hollywood) apenas para refutar os fãs que se espelhavam no personagem. E o resultado disso é um filme lento, cruel, no qual o suposto “Coringa” não quer se tornar o Príncipe Palhaço do Crime que conhecemos. Ou que os cidadãos de Gotham, espelhando os tais fãs, queriam que ele virasse. Ele nunca chega a ameaçar ninguém nem representar qualquer tipo de perigo. É apenas um sujeito comum e oprimido.
É um filme agressivamente “não comercial” cujo orçamento o obriga a faturar no mínimo US$ 570 milhões somente para que seu estúdio não perca dinheiro.
Todd Phillips teve liberdade total
A Warner simplesmente deixou Phillips fazer o que queria com o dinheiro do estúdio. A Variety informa que o cineasta não aceitou feedbacks de ninguém, incluindo o CEO do conglomerado, David Zaslav. Além disso, ele fez o que pôde para afastar os novos chefes do DC Studios James Gunn e Peter Safran, possivelmente inspirado por seu mentor Scorsese em seu impiedoso desprezo pelo cinema de heróis. “Não é um filme da DC, é um filme da Warner Bros!”, declarou Phillips, quase como se estivesse dizendo “não estamos fazendo entretenimento estúpido para adolescentes idiotas, estamos produzindo arte da mais alta qualidade!”. Gunn por sua vez não guardou ressentimentos e promoveu o filme ativamente em suas mídias sociais.
Infelizmente, e ao contrário de em 2019, a visão de Phillips não ressoou com a audiência. Ou com a crítica. Na verdade, o filme carrega uma verdadeira constelação de indicadores ruins: 33% de aprovação da crítica e 31% do público no Rotten Tomatoes e um D (equivalente a um 4/10) no CinemaScore, o que é pior até do que o desastre Madame Teia.
Mas ao menos longas que se tornaram sinônimos recentes de péssimas adaptações de HQs, como Madame Teia e Morbius, não fizeram algo tão tolo quanto se deixarem ser trucidados pelos críticos por um mês inteiro antes da estreia. Tal como o primeiro Coringa, Delírio à Dois estreou no Festival de Veneza, uma concessão que a Warner fez a Phillips. O cineasta havia produzido diversos sucessos para o estúdio (afora Joker, há também a trilogia Se Beber, Não Case) e a WB estava disposta à agradá-lo.
A má recepção do filme
Afinal, em 2019 o filme anterior do Palhaço também recebeu críticas mistas em Veneza. Mas paradoxalmente isso acabou por beneficiar o longa, que recebeu a pecha de “perigoso” e “controverso” – o que só impulsionou seu sucesso nas bilheterias. Já as reviews de Delírio à Dois enfatizaram o quão agressivamente anti-comercial, tedioso e sem inspiração o longa é. Ou seja: quem fosse ao cinema iria se deparar com um filme deliberadamente feito para antagonizar o público.
Com isso, os números na bilheteria deixam claro a insatisfação da audiência. Nos EUA, Coringa 2 arrecadou US$ 7 milhões nas pré-estreias, quase a metade dos US$ 13 milhões do primeiro Joker. Somada com as prés, a primeira sexta de Delírio à Dois foi de US$ 20,5 milhões. Entretanto, no sábado a receita caiu 44% para US$ 11 milhões. E no domingo, para completar o desastre, mais US$ 6 milhões, queda de 45% em relação ao dia anterior.
No total, Coringa: Delírio à Dois faturou US$ 37,7 milhões no fim de semana de abertura na bilheteria americana. Isso é uma estreia menor do que a de outros fiascos como As Marvels (US$ 47 milhões) e Morbius (US$ 39 milhões). É menos do que o que o primeiro Coringa fez em seu primeiro dia em cartaz (US$ 39,3 milhões).
Na verdade, considerando a insatisfação da audiência expressa nos ratings do CinemaScore e Rotten Tomatoes e na própria queda no faturamento desde seu primeiro dia. Tudo indica que o novo Joker pode sair de cartaz tendo faturado menos do que o que o seu antecessor de 2019 arrecadou em seu fim de semana de estreia (US$ 96,2 milhões, um recorde para o mês de outubro na época).
Filme não está tão ruim no mercado internacional
Ao menos o filme não se saiu tão mal assim nos mercados internacionais. Com US$ 77 milhões de arrecadação fora dos EUA e Canadá, o longa teve uma estreia global de US$ 115 milhões. As audiências estrangeiras também haviam abraçado o primeiro Joker: US$ 728 milhões de seus US$ 1.08 bilhão vieram de fora do mercado doméstico. Isso é mais do que muitos blockbusters do MCU, e isso sem um centavo da bilheteria chinesa.
Mas nem mesmo isso será capaz de salvar Coringa 2 de ser um fracasso que fará seu estúdio perder muito dinheiro. A matéria da Variety informa que as ações da Warner Bros Discovery beiram uma baixa histórica. Aqui é importante frisar que Delírio à Dois não é o único fiasco recente do estúdio, que, após liderar as bilheterias nos primeiros quatro meses do ano com Duna: Parte Dois e Godzilla e Kong, viu uma série de longas do estúdio naufragarem. Entre eles, Furiosa: Uma Saga Mad Max, Os Observadores, Horizon: An American Saga e Armadilha. Desde março, somente um filme do estúdio pode ser qualificado como sucesso: Os Fantasmas se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice (US$ 403 milhões global).
Coringa 2 é o medo de todo estúdio de Hollywood
Em resumo, Joker 2 é o que todo estúdio hollywoodiano teme: a sequência que custa mais caro e arrecada menos que seu aclamado antecessor. Enquanto recebe uma resposta da crítica e da audiência bem inferior. Uma carreira similar à de Morbius dá ao longa uma bilheteria final de US$ 71,2 milhões.
Além disso, é o sexto fracasso consecutivo da DC nos cinemas desde 2022. Isso põe mais pressão para que Superman seja bem sucedido no ano que vem e prove que os heróis (e vilões) DCnautas podem ser uma fonte viável de blockbusters para a Warner e não uma série sem fim de dores de cabeça.
Mas e você, o que achou do fracasso de bilheteria para Coringa 2? Vai assistir ao filme nos cinemas ou esperar pelo streaming? Deixe seu comentário aí embaixo, e por fim, fique ligado no Legado da DC para não perder nenhuma novidade!